vulnerável

Jennifer Ernesto
2 min readJan 12, 2023

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lembro-me que desde criança eu sou sensível, com uma tendência a me emocionar com celebrações e conflitos. sou o tipo de pessoa que chora de nostalgia ao ver fotos ou vídeos. e, apesar de gostar de recordações em imagens, tenho memória gráfica. assim que eu leio algo que escrevi, eu lembro do momento da escrita.

esse tipo de sensibilidade sempre fez com que eu me sentisse vulnerável — de forma pejorativa, e ao longo da minha jovem vida, eu fui criando mecanismos para esconder a minha sensibilidade.

e, para além das minhas origens sociais, raciais e de gênero… ser sensível é visto como fraqueza. não chore. seja forte. e assim por diante. mas, eu queria chorar, e eu queria ser frágil…

que bom que muitos anos de análise me permitiram chorar a frustração de viajar com uma pessoa irresponsável e desrespeitosa comigo e com os outros. eu percebi que eu comuniquei as minhas necessidades de forma clara, objetiva e terna… mas, eu recebi grosseria e desrespeito.

pela primeira vez, eu não senti culpa das minhas demandas e desejos. eu fui criada para sentir culpa de desejar e exercer os meus desejos, para mim, isso é uma vitória.

eu chorei, eu reclamei, eu liguei para amigos que me acolheram. fui realizando as tomadas de decisões que eram possíveis para mim, enquanto eu estava em outro estado — bem longe de casa.

e, apesar de algumas críticas indiretas e inoportunas, tais como “não se viaja com que não se conhece” e “já dava para saber que tais coisas poderiam acontecer”, só se sabe quem estava presente e viveu a situação.

o caminho analítico é a compreensão do porquê da entrada numa dinâmica problemática e o tempo de permanência. o que me fez permanecer na dinâmica, o que me fez entrar na situação?

uma das respostas possíveis é que eu ainda guardo em meu peito o desejo de igualdade racial, de gênero e de classe. e, sabendo o quanto a sociedade é racista, machista e classista com homens negros, eu aceito comportamentos que são semelhantes aos dos meus familiares, tanto porque compreendo a complexidade, quanto porque é o lugar esperado, o lugar comum.

eu me permito ter um pouco mais de paciência com homens negros.

e, no fundo, eu sinto culpa e solidão por atualmente experienciar um lugar mais confortável social e financeiramente.

o paradoxo é, sabe-se que não é nesse lugar que eu encontrarei novas respostas, mas, repetições de gatilhos antigos.

bem, um dos pontos da (minha) vulnerabilidade é o fato de ser um processo longo, contínuo e sem fim.

no fim, as viagens me fez descobrir lugares novos dentro de mim mesma.

Jennifer Ernesto

11.01.2023

São Paulo/SP

imagem disponível em: https://www.horoscopovirtual.com.br/imagem/src/horoscopo-xamanico/corvo.jpg

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Jennifer Ernesto
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Written by Jennifer Ernesto

Paulistana que anda de bike advoga e faz artes 🧶. Tentando me encontrar entre a política, a burocracia e a poética. Sou toda coração, mas também pragmática.

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